Evidências lingüísticas que apontam para a origem dos povos Tupí-Guaraní no leste amazônico

Antônio Augusto Souza Mello & Andreas Kneip
Universidade de Brasília & Universidade Federal do Tocantins, Brasil
 
Segundo Campbell (1998), existem duas formas de buscar evidências sobre a localização geográfica dos falantes de uma proto-língua. Uma das técnicas é buscar no vocabulário reconstruído termos referentes ao meio ambiente do proto-povo, por exemplo, termos para plantas e animais. A segunda é chamada de “Teoria da Migração Lingüística”, que está baseada no subagrupamento interno da família e na distribuição espacial das línguas. A área com a maior diversidade lingüística dentro da família é a mais provável de origem de uma determinada população.
Existem hoje quatro hipóteses para a origem e dispersão dos povos da família lingüística Tupi-Guarani: três baseadas em dados lingüísticos (Urban 1996, Rodrigues 2000 e Mello & Kneip 2005) e uma hipótese baseada em dados arqueológicos (Brochado 1984). As hipóteses de Rodrigues e Urban são semelhantes, colocando a origem da família Tupi-Guarani em local semelhante ao do tronco Tupi, com base na segunda técnica mencionada por Campbell, e estão em discordância com a hipótese de Brochado. Procuraremos aqui demostrar, utilizando a mesma técnica, que para a família Tupi-Guarani, a área de maior diversidade lingüística não corresponde à do tronco Tupi. Esta diversidade pode ser demonstrada tanto através de parâmetros fonológicos quanto pela obtenção de feixes de isoglossas lexicais que isolam alguns subconjuntos. Procuraremos também discutir como itens lexicais do vocabulário cultural reconstruído podem fornecer pistas sobre a localização e terra natal do proto-Tupi-Guarani.
 
Bibliografia:
 
BROCHADO, J. P. (1984): An ecological model of the spread of pottery and agriculture into Eastern South América. Tese (doutorado), University of Illinois at Urbana-Champaign. Urbana-Champaign.
CAMPBELL, L. (1998): Historical linguistics. Edinburgh University Press. Edimburgo.
MELLO, A. A. S. (2000): Estudo comparativo da família lingüística Tupi-Guarani: aspectos fonológicos e lexicais. Tese (doutorado), Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina.
MELLO, A. A. S. (2005): Diálogo lingüística – arqueologia: sobre origem e migrações Tupi-Guarani. Annais do XIII Congresso da Sociedade Brasileira de Arqueologia. Campo Grande (MS). CD-ROM.
RODRIGUES, A. D. (2000): Hipótese sobre as migrações dos três subconjuntos meridionais da família Tupi-Guarani. II Congresso Nacional da ABRALIN e XIV Instituto Lingüístico: 1596-1605. Florianópolis: Associação Brasileira de Lingüística.
URBAN, G. (1996): On the geographical origins and dispersion of Tupian languages. Revista de Antropologia, 39 (2): 61-104. São Paulo.